Evellin Serena Nights se apresentando...
1741 Não era Um Bom Ano
Serena empurrou o prato e se levantou da mesa irritada. Parecia mais furiosa do que Patrícia jamais vira em toda sua vida. Seus olhos extremamente claros pareciam em chamas.
Hector sorriu disfarçadamente, enquanto as irmãs se encaravam. Patrícia respirou fundo:
-Sente-se Evellin.
Serena continuou encarando a irmã. Seu rosto era frio e sem qualquer expressão. Apenas os seus olhos indicavam a fúria que a consumia.
- Ora menina bonita, deixe isso para lá e vamos voltar ao jantar, sim?
- Seu nome, señor Morizzo ainda não foi mencionado nessa conversa! - os olhos dela soltaram faíscas na direção do humano-cunhado - quando sua opinião for solicitada, terá todo o direito de opinar, caso contrário - ela sorriu, mostrando uma dupla de caninos afiados e mortais - Abstenha-se.
- Me abster de você? Nunca!
Patrícia encarou-o por um instante e Serena desviou o olhar.
Ele estava se tornando mais abusado a cada dia! Desde que Hellen fora lacrada ele se tornava cada vez mais um... estorvo.
Ela deu as costas para a irmã e para Hector e saiu da sala de jantar:
- Aonde você vai?
- Respirar ar fresco! O cheiro da sua hipocrisia me dá nojo, Patrícia!- gritou ela da porta.
Patrícia respirou fundo:
- Céus, o que eu faço com essa menina?
Hector acompanhou a saída da jovem vampira com o olhar... O que ela estava esperando? Agora que Hellen se fora, bem... As coisas poderiam ficar bem mais divertidas, não poderiam?
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Um vampiro não devia sentir dor, não é?
Serena sentou-se sobre uma das torres da igreja. Fora criada bem ali, trancada e protegida pela mão do Deus dos cristãos, criada na esperança de que ali, cercada por aquela hipocrisia humana, seu mal e de suas irmãs fosse exorcisado e a vampira, o demônio que ela era não despertasse...
O Sol se punha em um espetáculo de cores vivas...os humanos acreditavam que vampiros não saiam a luz do Sol, mas os humanos eram tolos, tolos demais para notar que eram enganados e manipulados para acreditarem em coisas absurdas como essa...
A jovem vampira encostou o rosto nos joelhos, sentia a raiva dentro de si começar a morrer, mas não era isso que ela queria, não agora que precisava da raiva para pensar.
Patrícia queria voltar para a Ilha dos Vampiros, um lugar do qual elas pouco lembravam e que só trazia recordações macabras. Patrícia queria abandonar Hellen. Queria abandoná-la sem nem ao menos vingá-la!
Hector, o Governador, Pedro e Edward tinham que morrer! Tinham que enlouquecer pouco à pouco... morrer lentamente, enquanto seus corpos eram devorados por vermes, enquanto seus olhos eram arrancados por pássaros e sua pele traspassada por espinhos...
Ela olhou para o poente mais uma vez. Odiava tudo o que estava acontecendo, odiava aquele jeito que Patrícia tinha de brincar com a vida dela, odiava a idéia de abandonar Hellen, sua querida irmã, sua adorada Hellen...
Respirou fundo e levantou-se. Lá embaixo, as pessoas andavam apressadas em direção a entrada da igreja onde a missa ia começar.
Hipocrisia!
Mais da metade daqueles homens eram assassinos. Fiéis que apenas entravam na igreja aos domingos. Que rezavam com os lábios e tinham o coração e a mente em outro lugar.
Não acreditavam no Deus a quem oravam... Assim como não acreditavam na vampira que os observava...
Sorriu. Caça aos humanos. Estava aí um bom jeito de começar a noite: exterminar alguns parasitas.
Desceu da torre com um salto, aterrisando suavemente sobre o chão e caminhou lentamente na direção oposta à igreja.
1741.
Não era um bom ano.
Um soldado a observava encostado em um muro próximo. O olhar dele não conseguia se desviar da bela vampira, principalmente daqueles olhos. Era raro ver-se olhos daquela cor em Madri. Azuis. Não, cinzas! Não, eram negros!
O soldado aproximou-se um passo da jovem. Ia pedir para que ela chegasse mais perto para que ele pudesse ver-lhe os olhos - tolice ele sabia - mas queria ver de perto aquelas feições e aqueles olhos de anjo.
Ela o encarou, sorrindo. Parecia uma menina de pouco mais de dezessete anos... Não, quinze! O soldado não compreendia, nem sabia por que, mas sentiu um súbito desejo de jogar-se aos pés da garota. Sentia que dela vinha uma dor e um ódio que ele nunca sentira,mas mesmo assim, a queria para si.
Ele olhou-a mais uma vez nos olhos, estavam fixos nele. Em sua garganta que pulsava em ritmo acelerado assim como seu coração. Os olhos dela agora eram vermelhos como o sangue.
O soldado ergueu a espada e quando Serena saltou sobre ele, enterrou-a no estômago da vampira, enquanto sentia os caninos dela penetrarem por sua carne em uma dor que se misturava com um prazer inexplicável e mortal...
Se o golpe dele tivesse sido mais para cima...
Ele fechou os olhos e assistiu em pânico sua vida esvair-se. As cenas que passavam por sua mente misturavam-se às cenas que a vampira vira... Sangue, mortes, quatro crianças órfãs, mãos de fogo, os lábios de Hector sobre os seus...
Serena tentou fechar a mente para o soldado. Isso nunca acontecera antes! Sempre que caçava apenas matava a vítima, não permitia que ela visse seus pensamentos...
A espada!
Sim, era a ligação de sangue entre ela e o soldado que o faziam ver suas memórias. Que se danasse! Ele ia morrer mesmo!
Apertou mais a mordida. O soldado abriu os olhos e olhou-a. Os olhos dela agora eram transparentes como vidro e não pareciam se importar com sorte de sua vítima.
Que se danasse, ele ia morrer mesmo...
Ela soltou-o e recuou um passo. Sim, ele ia morrer, como todos os outros humanos, mas quem sabe morrer não fosse melhor do que o que ia acontecer aos assassinos de Hellen?
Se Patrícia foge, eu luto!
O soldado abriu os olhos mais uma vez, estava caido no chão e morreria a qualquer instante, porém seus olhos não conseguiam desgrudar do belo rosto de menina, desfigurado pelo ódio e pelas manchas de sangue. Ela tirara a espada de dentro de si, e agora, havia apenas uma mancha de sangue escuro onde a arma antes estivera cravada. O soldado balbuciou:
- Seus olhos... Demônio...
Ela sorriu e ajoelhou-se ao lado dele. Molhou a ponta do dedo no próprio sangue e escreveu no chão:
"1741 não é um bom ano"
Ela o olhou e sorriu, sem qualquer expressão:
- Jamais olhe nos olhos de alguém - murmurou ela - a menos que tenha certeza do que vai ver. - As palavras soaram aterrorizantes para seus próprios ouvidos.
Ela se levantou,as palavras ainda ecoando em sua mente, sentia vontade de vomitar e chorar, estava tonta de dor e medo.
Correu para longe do soldado agonizante, em direção a pensão onde vivia com a irmã. Entrou correndo, sem que Patrícia a visse, sabia o que fazer!
Seus olhos enlouqueciam podiam atormentar pela eternidade, seus poderes eram maiores do que qualquer um poderia imaginar! Soluçou, sentada na cama...
Mataria a todos, os faria enlouquecer, desejarem a morte e a dor...
19 anos...
O ano de 1741 não era um bom ano...
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